Maria
Mentira foi uma aluna da minha escola. Não me recordo se o bibe que usava era
todo azul ou de xadrez azul e branco. Lembro-me bem que não tinha o nariz como
o Pinóquio, mas tinha o charme da Sininho e a capacidade de voar do Peter-Pan.
E voava… Oh se voava! Voava até à Terra do Nunca onde passava horas à conversa
com os Três Porquinhos que viviam, numa casa coberta de chocolate, pertença da
Branca de Neve, que tinha um medo terrível do Lobo Mau que, por ser muito
curioso, como sabemos, caiu no caldeirão…
A
mãe da Maria Mentira era, como todas as mães, uma mãe muito atenta… mas não
tinha tempo e acreditava, como todos acreditamos que a imaginação faz bem ao
coração.
Ao
chegar a casa, a Maria Mentira contava-lhe que tinha visto a Gata Borralheira em
amena cavaqueira com o Gato das Botas, primo da Polegarzinho. E a mãe dizia-lhe
que sim, que acreditava piamente mas…tinha de ir fazer o jantar.
De
manhã, a caminho da escola, a Maria Mentira contava à mãe que durante a noite a
sede a levava à cozinha e, pela chaminé desceu o Pai Natal disfarçado de
Feiticeiro de Oz e chamou-lhe nomes muito feios! A mãe acreditava cegamente mas
…tinha de atravessar a cidade e correr para o emprego.
No
regresso a casa, a Maria Mentira dizia à mãe que o Homem de Lata, que como
todos recordamos andava à procura do Génio da Lâmpada, lhe tirou os rebuçados
que a Capuchinho lhe oferecera. E a mãe, cheia de compras para fazer acreditava
sinceramente.
Um
dia (porque nas histórias de encantar há sempre “um dia”), a Maria descobriu
junto à janela do seu quarto, um enorme pé de feijão que desaparecia céu dentro
e decidiu estar na hora de partir.
Tal
como o Espantalho sentiu a necessidade de um cérebro e o Leão de coragem, a
Maria achou ter chegado a altura de procurar o seu Grilo Falante. E então
trepou pelo pé de feijão e desapareceu pelo céu. (Talvez o Grilo Falante lhe
dissesse qual era a verdade calada, sempre que “mentia”!).
Nesse
mesmo dia ao chegar a casa, a mãe (sempre muito atenta, mas sem tempo )
procurou a Maria por todo o lado, mas apenas encontrou a Mentira e, então, o
jantar ficou por fazer e as compras adiadas.
A
mãe da Maria procurou bem lá no fundo do sótão da sua memória e num baú muito
velho encontrou o tapete de Aladino. Sem mais demoras, voou até ao Asteróide B
612 (onde ainda hoje, segundo consta, mora o Polegarzinho). Por artes mágicas,
o Dumbo transportou-a até à Floresta Mágica onde, finalmente, no colo de um
gordo e sorridente cogumelo, encontrou a Maria.
E
durante três dias e três noites a embalou… Durante três dias e três noites a
mimou…
Não
sei se a Maria voltará à minha escola, nem sei se a Maria ainda vive aqui
pertinho. O que se diz por aí, é que a Mentira, essa, partiu! E que a mãe da
Maria percebeu o que o Eduardo Sá, sabiamente, um dia escreveu. “Os Pais são os
brinquedos mais aconselháveis para as crianças” e “Quando um filho sente que a
sua verdade deixa os pais tristes, refugia-se no silêncio e na falsidade”.
Queridos
leitores esta não é uma história para crianças, por isso devia ter uma bolinha
no cantinho superior direito (como nos filme) ; mas… a raposa que é matreira
comeu-a!
Autoria: Dra. Celeste Vieira Machado
Sem comentários:
Enviar um comentário