8 de outubro de 2014



Maria Mentira foi uma aluna da minha escola. Não me recordo se o bibe que usava era todo azul ou de xadrez azul e branco. Lembro-me bem que não tinha o nariz como o Pinóquio, mas tinha o charme da Sininho e a capacidade de voar do Peter-Pan. E voava… Oh se voava! Voava até à Terra do Nunca onde passava horas à conversa com os Três Porquinhos que viviam, numa casa coberta de chocolate, pertença da Branca de Neve, que tinha um medo terrível do Lobo Mau que, por ser muito curioso, como sabemos, caiu no caldeirão…
A mãe da Maria Mentira era, como todas as mães, uma mãe muito atenta… mas não tinha tempo e acreditava, como todos acreditamos que a imaginação faz bem ao coração.
Ao chegar a casa, a Maria Mentira contava-lhe que tinha visto a Gata Borralheira em amena cavaqueira com o Gato das Botas, primo da Polegarzinho. E a mãe dizia-lhe que sim, que acreditava piamente mas…tinha de ir fazer o jantar.
De manhã, a caminho da escola, a Maria Mentira contava à mãe que durante a noite a sede a levava à cozinha e, pela chaminé desceu o Pai Natal disfarçado de Feiticeiro de Oz e chamou-lhe nomes muito feios! A mãe acreditava cegamente mas …tinha de atravessar a cidade e correr para o emprego.
No regresso a casa, a Maria Mentira dizia à mãe que o Homem de Lata, que como todos recordamos andava à procura do Génio da Lâmpada, lhe tirou os rebuçados que a Capuchinho lhe oferecera. E a mãe, cheia de compras para fazer acreditava sinceramente.
Um dia (porque nas histórias de encantar há sempre “um dia”), a Maria descobriu junto à janela do seu quarto, um enorme pé de feijão que desaparecia céu dentro e decidiu estar na hora de partir.
Tal como o Espantalho sentiu a necessidade de um cérebro e o Leão de coragem, a Maria achou ter chegado a altura de procurar o seu Grilo Falante. E então trepou pelo pé de feijão e desapareceu pelo céu. (Talvez o Grilo Falante lhe dissesse qual era a verdade calada, sempre que “mentia”!).
Nesse mesmo dia ao chegar a casa, a mãe (sempre muito atenta, mas sem tempo ) procurou a Maria por todo o lado, mas apenas encontrou a Mentira e, então, o jantar ficou por fazer e as compras adiadas.
A mãe da Maria procurou bem lá no fundo do sótão da sua memória e num baú muito velho encontrou o tapete de Aladino. Sem mais demoras, voou até ao Asteróide B 612 (onde ainda hoje, segundo consta, mora o Polegarzinho). Por artes mágicas, o Dumbo transportou-a até à Floresta Mágica onde, finalmente, no colo de um gordo e sorridente cogumelo, encontrou a Maria.
E durante três dias e três noites a embalou… Durante três dias e três noites a mimou…
Não sei se a Maria voltará à minha escola, nem sei se a Maria ainda vive aqui pertinho. O que se diz por aí, é que a Mentira, essa, partiu! E que a mãe da Maria percebeu o que o Eduardo Sá, sabiamente, um dia escreveu. “Os Pais são os brinquedos mais aconselháveis para as crianças” e “Quando um filho sente que a sua verdade deixa os pais tristes, refugia-se no silêncio e na falsidade”.
Queridos leitores esta não é uma história para crianças, por isso devia ter uma bolinha no cantinho superior direito (como nos filme) ; mas… a raposa que é matreira comeu-a!



Autoria: Dra. Celeste Vieira Machado


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